Política

Candidatos “poupam” Beto mas corrupção é alvo central

Curitiba – A RPC/Globo realizou ontem à noite o último debate entre os candidatos ao governo do Paraná antes do primeiro turno das eleições neste domingo (7). Em quatro blocos, Cida Borghetti (PP), Doutor Rosinha (PT), João Arruda (MDB), Professor Piva (Psol), Ratinho Junior (PSD) e Ogier Buchi (PSL) tentaram resumir suas principais propostas e convencer os eleitores de que são a melhor opção.

Apesar do confronto direto, o debate manteve clima morno e, ao contrário do debate da RIC Record, na última sexta-feira, quando o nome mais citado foi do ex-governador Beto Richa, ontem ele “quase” foi esquecido. Mas o tema corrupção foi o mais falado.

De maneira geral, foram abordados temas como segurança energética, corrupção, transporte coletivo da região metropolitana de Curitiba, incentivo às microempresas, violência contra a mulher, reforma trabalhista e pedágios.

Embora com muito menos provocações que no debate anterior, na RIC Record, sexta-feira passada, Ratinho Jr. parecia tenso e disposto a não ceder a qualquer tipo de ataque. Inclusive, ignorava citações ao tempo em que foi secretário do Governo Beto Richa.

Já a governadora Cida parecia um pouco mais nervosa, mas evoluiu ao longo do debate, aproveitando as oportunidades para falar sobre corrupção (foi sua primeira pergunta) e ajuste fiscal, no qual lembrou do embate sobre o reajuste do funcionalismo público.

João Arruda também citou menos vezes o Governo Beto Richa e centrou suas perguntas à governadora. Dr. Rosinha mais uma vez usou mais do seu tempo em campanha nacional do que estadual, enquanto Professor Piva fez menos graça (mas fez) com Ratinho e Ogier tentou aproveitar o tempo para dizer que ele, sim, é o candidato de Jair Bolsonaro (PSL), sem citar que o próprio presidenciável que quase arruinou sua candidatura ao declarar apoio a Ratinho.

Ratinho aproveitou sua própria pergunta a Cida para falar sobre ampliação da rede de energia no campo.

Já Cida aproveitou sua própria pergunta a Ogier para falar sobre a Divisão de Combate à Corrupção criada por ela após ter assumido o governo do Estado. “Varri a corrupção para fora do Palácio Iguaçu, demiti assessores, diretores que foram investigados e varri a corrupção para fora. O governo é hoje um dos grandes colaboradores da Lava Jato, colocando todos os documentos à disposição para serem investigados e analisados”.

O candidato Ogier Buchi disse que “não se pode mentir para o povo (…) O estado nada produz. Gasta. E gasta mal. Gasta muito. Porque o Estado está inchado e foi inchado ao longo da história (…) Quando a Assembleia vota, vota preocupada em preencher cargos, com seus novos mandatos (…) Sou candidato solitário e não dependerei da Assembleia”.

Cida pressiona Ratinho sobre secretarias

Um dos episódios mais tensos foi protagonizado pela governadora Cida Borghetti e Ratinho Jr. A governadora voltou a questionar quais secretarias serão extintas pela proposta de Ratinho (de cortar 50% da atual estrutura) e quais privilégios seriam cortados, assunto já tratado entre ambos no embate anterior.

“Vou começar cortando aquelas duas que [Cida] criou. É possível cortar… Secretarias da Justiça, Trabalho e Família vamos fazer uma; Planejamento e Administração de duas faremos uma, e assim sucessivamente. O que vamos acabar é com o custo fixo. Temos um estudo que cada secretaria custa R$ 300 mil por mês aos cofres públicos. É um problema cultural da política brasileira, vão criando cargos”.

Cida rebateu: “Não criei secretaria, apenas ocupei alguns postos que já existiam. Segundo, ainda quero saber quais são as 14 secretarias que serão cortadas. Ao longo de quase 20 anos, quais foram os privilégios e mordomias que cortou? Lembro que pediu um Jipe Pajero importado para seu uso exclusivo. Esse carro agora está à disposição da Divisão de Combate à Corrupção”.

Outro embate foi entre Cida e João Arruda, que criticou a situação da Polícia Militar: “Hoje falta gasolina nas viaturas de polícia, não tem manutenção, não tem colete à prova de bala que não esteja vencido, é preciso investir em armamento. No futuro a gente pode avançar, ter unidades móveis que serão centros de inteligência, mas agora é preciso consertar”.

A governadora não gostou, e frisou que tem “cuidado com muita responsabilidade todos esses temas tratados aqui. Segurança pública precisa ter responsabilidade. E estamos cuidando, viaturas, coletes, armas e munições para que o policial tenha condições de enfrentar o bandido nas ruas”, disse, lembrando que a demora para a aquisição dos coletes à prova de balas está perto do fim, após agilizar a licitação parada havia meses.

Revogação de leis

João Arruda se desviou das provocações do Professor Piva sobre a reforma trabalhista aprovada no Governo Temer, do MDB. “O senhor se arrepende disso?”

Ao que Arruda driblou: “Fiz oposição ao Governo Beto Richa e aos seus principais auxiliares. Votamos diversas leis em Brasília e muitas vezes votei contra minha vontade. Como a PEC dos Gastos, fui o único contra da minha bancada. Como governador, vou votar junto com a bancada federal, porque tive apoio unânime de todos os deputados, para rever alguns aspectos da reforma trabalhista”.

Piva não deixou barato: “Sou amigo da sua família, aquilo que o seu governo nacional vem fazendo pelo Brasil… o senhor é do MDB do Temer, se praticarem no Paraná o mesmo que estão fazendo com o povo brasileiro, vai ter gente com saudade do Beto Richa. Será que vai implementar aqui o mesmo? A reforma trabalhista foi um atentado com o povo.”

Nisso, Arruda disse que votou contra o regime de urgência porque entendia que precisava aprofundar mais a discussão da reforma trabalhista, “mas entendendo que a lei era boa e era preciso modernizar. Quero discutir o Paraná. O governo do MDB foi o que baixou a tarifa da luz, da água, e não será para poucos, será para todos os paranaenses”.

Dr. Rosinha e Arruda também defenderam a revogação da lei que mudou o regime do ParanáPrevidência. “No Paraná, em abril de 2015 aprovaram uma lei para tirar R$ 140 milhões por mês da previdência e com isso em alguns anos não teremos dinheiro para pagar a folha. Isso é muito ruim, porque colocamos em risco o futuro do Paraná. Primeira medida é para revogar essa lei”.

“Juntos construiremos um novo projeto para uma nova previdência, porque o ParanáPrevidência vai falir e o estado do Paraná também vai falir.”, disse o petista.

Desenvolvimento econômico e social

Dividindo seu tempo com franca campanha nacional, Dr. Rosinha falou sobre a mudança na lei sobre os impostos para os microempresários: “No Estado, a primeira questão é mudar a lei que o Beto Richa aprovou que aumenta impostos para os pequenos [empresários]. Outra é o Estado dar aval para as microepresas poderem investir. E ter acesso à internet. Não podemos manter o sistema do neoliberalismo. Farei subsídio avaliado ano a ano, e vou fazer isso através da lei orçamentária.”

João Arruda voltou a defender o fim da substituição tributária.

“Há cinco meses, quando assumi o governo, tenho priorizado, visitado regiões onde o IDH é muito baixo e para melhorar as desigualdades temos que observar as vocações de cada região para levar o desenvolvimento e gerar emprego e renda, mas investir maciçamente na primeira infância, fazer com que cresçam e possam se desenvolver como jovens prontos para o mercado de trabalho. Gestão tem que ser eficiente, não podemos comprometer as finanças do Estado, comprometer o desenvolvimento”, disse a governadora Cida Borghetti.

Universidades estaduais

Pela primeira vez, as universidades estaduais entraram em debate. Dr. Rosinha disse que, como governador, sua primeira ação será revogar o Decreto 3060, “que tirou metade dos investimentos da ciência tecnologia e pesquisa. As universidades terão vida própria, respeitarei sua autonomia, e as universidades serão chamadas a debater todas as políticas de Estado, porque têm técnicos e especialistas. Que a universidade sem fronteira volte a existir trabalhando com a sociedade em pesquisa, ciência e tecnologia em todos os setores.”

Ratinho Jr. disse que o governo do Estado tem R$ 2,4 bilhões para as universidades estaduais. “Vou criar as agências de desenvolvimento regionais e as universidades serão convocadas para colaborar, para pensar esse desenvolvimento regional econômico e social, investir em pesquisa aplicada”.

Professor Piva disse que só é possível falar em tecnologia e inovação no Paraná “fortalecendo nossa inteligência que se encontra nas universidades públicas e que ao longo do governo foi sucateado. Qualquer novidade temos aqui dentro. Vamos investir nas universidades”.

Já Ogier Buchi disse que vai “provocar a inteligência do povo paranaense. Temos orgulho do Paraná. Temos orgulho da nossa gente. Através da Fundação Araucária, chamar a expertise da Copel e dos planos de desenvolvimento das dez mesorregiões do Paraná, cada uma tem uma vocação, tem uma grandeza, é possível construir o Paraná do futuro. temos essa condição e inteligência, basta um líder.”

Contratos de pedágio

O tema pedágio só entrou em discussão no penúltimo bloco. “Tomei a decisão logo que assumi de comunicar as concessionárias que não vamos renovar os contratos. Audiências públicas para construir o novo modelo. Mas diante dos novos fatos, por conta da Lava Jato, pedi à Justiça que, baseada na Lei Anticorrupção, que determine desconto de 50% na tarifa dos pedágios, já que as investigações mostram cobranças irregulares”, disse a governadora Cida Borghetti, e acrescentou: “Mas a corrupção que impera no pedágio do Paraná hoje faz com que damos um basta e pedi e estamos aguardando a resposta do juiz. (…) Pedi bloqueio de bens das concessionárias para que a população não seja penalizada pelo mau uso do dinheiro público. No meu governo, o DER terá a caixa aberta, e não caixa preta”.

Ogier Buchi disse que é a favor do pedágio “porque todos sabem da incapacidade do Estado, mas sou a favor da proposta e modelagem mista. Os serviços podem e devem ser executados pelo Estado, e o capital responderá só por um terço do preço”, sugere.

Professor Piva disse que não se pode aceitar que as rodovias sirvam para dar lucro. “Nosso programa prevê que algumas circunstâncias vamos abrir debate e se tiver que optar por cobrança, que seja por empresa pública.”

Dr. Rosinha questionou o interesse da União em manter a concessão das rodovias federais com o Estado e que, se mantiver, o novo modelo precisa ter tarifas muito mais baixas.